Perispírito e evolução
Rogério Coelho
rcoelho47@yahoo.com.br
A alma pura se embriaga com os gozos da vida superior, das magníficas harmonias do infinito
“O perispírito ou corpo fluídico dos Espíritos é um dos produtos mais importantes do fluido cósmico universal.” — Allan Kardec[1]
Na questão de número 93 de O Livro dos Espíritos, o Mestre Lionês recebe dos Espíritos Superiores a informação seguinte: “O Espírito está envolvido em uma substância vaporosa, porém muito grosseira para nós, ainda que, sem embargo, suficientemente vaporosa para os encarnados permitindo sustentar-se na atmosfera e trasladar-se para onde queira.”
O perispírito é constituído da condensação do fluido cósmico universal em torno de um foco de inteligência ou alma.
O corpo perispiritual e o corpo carnal se originam no mesmo elemento primitivo: um e outro são matéria, ainda que em estados diferentes, já que no perispírito a transformação molecular se opera de outra maneira, conservando o fluido suas qualidades etéreas.
Kardec explica: “(...) os Espíritos conformam seus perispíritos com os elementos do meio em que se encontram, isto é, esse envoltório se integra com os fluidos próprios do ambiente. Em consequência, os elementos constitutivos do perispírito variam de acordo com os mundos. Júpiter é considerado um mundo muito avançado em comparação com o nosso; lá a vida corporal não possui a materialidade grosseira que existe na Terra, portanto os corpos perispirituais devem ser de natureza infinitamente mais quintessenciada que em nosso Planeta. (...) Ao abandonar a Terra, o Espírito reveste seu envoltório fluídico com os fluidos apropriados ao mundo ao qual deve se trasladar.
“A natureza do envoltório fluídico se relaciona, também, sempre com o grau de progresso moral do Espírito. Em razão do maior ou menor grau de pureza do Espírito, seu perispírito se revestirá com as partículas mais puras ou grosseiras do fluido próprio do mundo em que deva encarnar.
“A natureza perispiritual de um mesmo Espírito vai se modificando em cada encarnação à medida que progride moralmente, ainda que continue encarnando no mesmo meio. Os Espíritos Superiores encarnados excepcionalmente em missão em um mundo inferior, possuem um perispírito menos grosseiro que o dos nativos desse mundo.”[2]
Não fica, portanto, difícil compreender a importância do perispírito no contexto da evolução.
Segundo Léon Denis, no livro Depois da morte, as “(...) relações seculares dos homens e dos Espíritos, confirmadas e explicadas pelas recentes experiências do Espiritismo, demonstram a sobrevivência do ser sob uma forma fluídica mais perfeita. Essa forma indestrutível, companheira e servidora da Alma, testemunha de suas lutas e de seus sofrimentos, participa, como temos visto, de suas peregrinações e se eleva e se purifica com ela.
“Formado nas regiões inferiores, o ser perispiritual ascende, lentamente, pela escala das existências. Só no princípio ele é um ser rudimentar, um bosquejo incompleto. Ao chegar à humanidade, começa a refletir sentimentos mais elevados; a inteligência resplandece com maior poder, e o perispírito se ilumina de novos resplendores. De vida em vida, à medida que as suas faculdades se estendem, as aspirações se purificam e o campo do conhecimento se alarga, o perispírito se enriquece de novos sentidos. Cada vez que termina uma encarnação, como uma borboleta que escapa de sua crisálida, o corpo espiritual se livra dos andrajos da carne: a alma volta a recobrar-se por inteiro e livre! Considerando-se o manto fluídico que a recobre em seu aspecto esplêndido ou miserável, se comprova seu próprio estado de adiantamento.
“Do mesmo modo que os troncos das árvores vetustas conservam em si as pegadas de seus desenvolvimentos anuais, assim também o perispírito conserva, sob sua aparência presente, os vestígios das vidas anteriores, dos estados percorridos sucessivamente. Esses vestígios repousam em nossa individualidade, frequentemente esquecidos, mas quando a alma os evoca despertando suas recordações reaparecem como testemunhas que — larga e penosamente — balizam os caminhos.
“Os Espíritos retrógrados têm envoltórios espessos, impregnados de fluidos materiais. Sentem, ainda, depois da morte, as impressões e as necessidades da vida terrena. A fome, o frio e a dor existem para os mais grosseiros. Seu organismo fluídico, escurecido pelas paixões, não pode vibrar senão debilmente, e suas percepções são muito mais restritas. Não sabem nada da vida do Espaço; tudo são trevas neles e ao seu redor.
“A alma pura, livre das atrações bestiais, transforma seu perispírito e o faz semelhante a ela. Quanto mais sutil é seu perispírito, com mais força vibra e mais se estendem suas percepções e suas sensações. Participa, de certo modo, de uma existência cuja ideia apenas podemos ter mui superficialmente. A alma pura se embriaga com os gozos da vida superior, das magníficas harmonias do Infinito.
“Tal é a tarefa do espírito humano e tal e a sua recompensa por seus amplos trabalhos: prover-se de novos sentidos, de uma delicadeza e de uma potência sem limites; dominar suas paixões brutais, fazer do espesso envoltório primitivo uma forma diáfana, resplandecente de luz. Eis aí a obra assinada a todos e que todos devem perseguir através das etapas inumeráveis, no caminho maravilhoso que os mundos traçam em sua caminhada.”
- KARDEC, Allan. A Gênese. 43.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Cap. XIV, item 7.
- Ibidem, cap. XIV, itens 8 a 10.
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