Setembro | 2020

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Reuniões espíritas virtuais

Maroísa F. Pellegrini Baio

maroisafpb@gmail.com

O objetivo será sempre nossa instrução!

 

Nesses meses de distanciamento social devido à pandemia, aconteceu algo que, como espíritas, jamais havíamos imaginado: as casas espíritas, por determinações legais, de portas fechadas.

No primeiro momento veio o receio de que, afastados das atividades espíritas, sobretudo a mediúnica, surgissem influências espirituais com as quais não conseguiríamos lidar sozinhos. Surgiu também um sentimento de tristeza por não estarmos juntos com nossos companheiros e amigos de ideal, trabalhadores e frequentadores. E os estudos? E o atendimento espiritual aos encarnados e desencarnados? Essas preocupações também surgiram de forma repentina para nós!

Todavia, ensinam os benfeitores espirituais que toda crise é oportunidade de renovação e, com ela, vem a esperança! O que igualmente não poderíamos imaginar foi a possibilidade de estudar e orar utilizando as ferramentas da internet! Essas oportunidades jamais haviam passado em nossa mente!

Convictos no poder do pensamento e na assistência dos benfeitores espirituais, descobrimos uma nova maneira de continuar unidos, de coração para coração, pensamento com pensamento. A confiança na assistência espiritual parece ter aumentado justamente pelos ensinamentos que o Espiritismo nos proporciona nesse sentido.

Mas... e os médiuns? Também aqui encontramos a oportunidade de exercitar o autocontrole, orando e vigiando. Claro que as influências espirituais continuam ocorrendo, porém estamos aprendendo a lidar com elas de uma forma que não estávamos habituados, embora conhecendo sua eficácia.

Nas atividades mediúnicas habituais exercidas na casa espírita, de alguma forma nos acomodávamos em relação à necessidade de nossa vigilância e no poder da prece, pois sabíamos que, à noite, os Espíritos necessitados de auxílio que nos influenciavam seriam atendidos pelos benfeitores espirituais. Agora não temos essa possibilidade na forma presencial. Mais uma lição para colocarmos em prática!

Entretanto, reuniões espíritas sem atividade mediúnica não acontecem somente neste momento pelo qual passamos. Elas ocorriam com frequência no século XIX e eram do conhecimento de Allan Kardec.

Logo após o lançamento de O Livro dos Médiuns em janeiro 1861, pessoas de várias localidades, interessadas em formar reuniões espíritas, escreveram a Kardec dizendo que não conseguiram ir adiante por causa da escassez de médiuns, ou seja, entre os participantes daqueles grupos não havia nenhum que apresentasse mediunidade ostensiva, sem a qual torna-se quase impossível a comunicação com os desencarnados. Note-se que essa situação é mais comum do que se pensa, sobretudo em pequenas localidades onde não há centros espíritas.

No Brasil isso foi constatado pelo Censo 2010 realizado pelo IBGE. As regiões Norte e Nordeste juntas totalizam apenas 1,3% de espíritas. Entretanto, não é preciso ir tão longe. Até mesmo nas regiões mais populosas há municípios menores onde o número de espíritas é reduzido.

Kardec considerou necessário registrar alguns conselhos sobre como suprimir a falta de médiuns, publicando-os na Revista Espírita de fevereiro de 1861. Ele inicia fazendo uma judiciosa colocação sobre o principal objetivo de uma reunião espírita séria:

“Um médium, sobretudo um bom médium, é incontestavelmente um dos elementos essenciais em toda reunião que se ocupa do Espiritismo; mas seria erro pensar que, em sua falta, nada mais resta que cruzar os braços ou suspender a sessão. (...) Vamos a uma reunião espírita, ou pelo menos devíamos ir, para nos instruirmos. A questão agora é de saber se o poderemos ou não sem o médium. Para os que vão a essas reuniões com o único objetivo de ver efeitos, o médium será tão indispensável quanto o músico no concerto; mas, para os que buscam instruir-se, em falta de um instrumento de experimentação, terão mais de um meio de o obter.”

Apresenta, a seguir, algumas atividades que podem ser realizadas numa reunião espírita que não disponha na ocasião de médiuns sérios e comprometidos com o Espiritismo para as comunicações com os Espíritos:

  1. Reler e comentar antigas comunicações cujo estudo profundo fará ressaltar melhor o seu valor. Quem participa de uma reunião espírita para distrair-se achará essa tarefa desinteressante mas para aquele que quer instruir-se no Espiritismo a leitura dessas comunicações, mesmo que as conheça de antemão, sempre poderá trazer novos ensinamentos.
  2. Contar fatos de que se tem conhecimento, discuti-los, comentá-los, explicá-los pelas leis da ciência espírita, examinando sua possibilidade ou não; ver o que encerram de provável ou de exagero; examinar a parte da imaginação, da superstição etc. Atualmente, pelo desenvolvimento dos meios de comunicação, o conhecimento desses fatos tornou-se muito mais acessível.
  3. Ler, comentar e desenvolver cada artigo de O Livro dos Espíritos e de O Livro dos Médiuns, bem como de outras obras sobre o Espiritismo. Com essa recomendação Kardec não afirmava que somente os seus livros é que poderiam tratar da Doutrina Espírita, mas que neles a ciência espírita estava completa, facilitando seu estudo.
  4. Discutir os vários sistemas sobre interpretação dos fenômenos espíritas. Após Kardec, vários pesquisadores acadêmicos e cientistas das mais diversas áreas estudaram a fundo os fenômenos anímicos e mediúnicos, ampliando as possibilidades de estudo.

Note-se que Kardec reforça, várias vezes, que o principal objetivo das reuniões espíritas é a aquisição de conhecimentos sobre a ciência espírita e não, como pensam muitos, apenas para obter comunicações com os Espíritos. Ele também considerava importante até mesmo o estudo de obras que combatiam o Espiritismo, desde que não caíssem nas injúrias e difamações sem nada provar; nesse caso, seria apenas perda de tempo dar atenção demasiada a inimigos declarados que nada conhecem a respeito da Doutrina.

Na atualidade, com o avanço da internet e da telefonia móvel, surgiram TVs e rádios espíritas, grupos de estudos on-line, seminários a distância, transmissão ao vivo de eventos espíritas como congressos e conferências. Dessa forma, aqueles que estejam em locais onde não existam casas espíritas nem grupos de estudos doutrinários poderão acompanhar, com muita facilidade, os esclarecimentos necessários a uma boa compreensão da Doutrina Espírita em seu tríplice aspecto: ciência, filosofia e moral evangélica.

Embora materialmente a casa espírita ainda permaneça fechada em algumas cidades, virtualmente suas portas se abriram a muito mais pessoas, em alguns casos distantes de nós fisicamente e, em outros, sem a possibilidade de se locomoverem até o local! Quanto a divulgação do Espiritismo está crescendo com esses encontros virtuais, não é mesmo?

Kardec encerra suas recomendações com o seguinte conselho: “Mas se for necessário suprir a ausência momentânea de médiuns, não se deve cometer o erro de passar sem eles indefinidamente. É preciso nada negligenciar, a fim de os encontrar.” Com isso ele destaca a importância da mediunidade, cuja aplicação à caridade não deve ser menosprezada!

setembro | 2020

MATÉRIA DE CAPA

RIE – setembro/2020

As reuniões virtuais e o alcance da mensagem espírita

Lista completa de matérias

 Sem dolo ou culpa

 Carta ao leitor – setembro/2020

 Os nossos flagelos

 Eventos virtuais e o estreitamento dos laços globais – Entrevista com Nahur Fonseca

 Espiritualização e alimentação

 A Parapsicologia na educação

 A escola e o ideal espiritualista

 As contradições de origem espírita

 Reuniões espíritas virtuais

 Laços espirituais entre Chico Xavier e Emmanuel

 Maria, mãe de Jesus

 Mãe eu volto

 Uma viagem do Espírito no tempo

 Rupturas emocionais entre pais e filhos

 Precisamos de pouco para viver com dignidade

 O que pode mudar e melhorar no pós-pandemia?

 As leis morais e a Covid-19

 As poesias da vida, cantadas em prosas e versos

 Peixe fora d’água

 Prece: um tratamento de harmonia

 Cairbar Schutel

 Quando a vida perde a graça

 Avaliando as atividades a distância

 Espiritualización y alimentación