Dezembro | 2019

Trabalhadores da última hora e a reforma íntima

Ailton Barcelos da Costa

ailton.barcellos@gmail.com

Seres comprometidos com o programa espiritual da modificação pessoal, assim como da sociedade, com vistas à Era do Espírito imortal

 

Quando pensamos como é a sociedade atual, uma imagem nos é trazida por Kardec em A Gênese, que nos diz que em sua maioria ela é formada de homens turbulentos e indisciplinados, os quais ocasionarão constantes desordens. Para os Espíritos, esses homens são os mais fortes, porque são mais numerosos do que os outros, e os poucos bons nenhuma influência exercem; seus conselhos são desprezados; sofrem com a companhia dos outros, que os achincalham e maltratam.

Porém, é na obra Perturbações Espirituais, de Manoel Philomeno de Miranda, que vamos encontrar um trecho revelador do cenário espiritual que a Terra vive, dito pelo irmão Macário:

“Como não ignorais, estão reencarnados em experiência última, os vergonhosos verdugos da Humanidade do passado com as suas tribos sanguinárias, que utilizais para tornardes a Terra um caos, onde as obsessões exaurirão os sobreviventes das lutas inenarráveis. Mesmo que viésseis a fruir de algum êxito relativo, a marcha do progresso é na direção da plenitude, e o Senhor da Vida, que a todos nos ama, quando não mais Lhe correspondermos à expectativa, convidar-nos-á ao avanço, qual vem ocorrendo nestes dias mediante expiações rudes, que nos libertarão das armaduras do ódio, do primitivismo, do desvario em que vivemos...” (FRANCO, 2015, p. 148)

Muitos vão pensar que estes irmãos infelizes são os delinquentes de toda ordem, alguém bem perverso, certamente morando do outro lado do planeta, mas é justamente aí que está o engano. Grande parcela desses verdugos da humanidade certamente são cristãos que fracassaram em outros ocasiões e que agora estão de volta — é claro que somos nós mesmos os irmãos fracassados de outras ocasiões.

Podemos nos perguntar: quem é responsável por conduzir a transformação da humanidade rumo a uma nova fase de progresso? A resposta é bem óbvia, já que a mudança depende de cada um de nós, que nos transformemos, que sejamos mais éticos, ou seja, a mudança da humanidade vai depender que cada um de nós faça sua reforma íntima.

Quando falamos do Espírito encarnado, convidado à reforma íntima, à sua mudança interior, podemos compará-lo a um trabalhador da vinha do Senhor, aos “trabalhadores da última hora” (Mateus, 20:1-16).

O Evangelho Segundo o Espiritismo nos diz que os espíritas fazem parte dos chamados trabalhadores da última hora. Para o Espírito Constantino, o Senhor nos chama ao trabalho por séculos, mas só agora aceitamos adentrar a sua vinha:

“Eis-vos o momento de embolsar o salário; empregai bem a hora que vos resta e não esqueçais nunca que a vossa existência, por longa que vos pareça, mais não é do que um instante fugitivo na imensidade dos tempos que formam para vós a eternidade” (KARDEC, 2002, p. 398).

Para Manoel Philomeno de Miranda, os trabalhadores da última hora, transformando-se nos modernos obreiros do Senhor, estão comprometidos com o programa espiritual da modificação pessoal, assim como da sociedade, com vistas à Era do Espírito imortal, que já se encontra com os seus alicerces fincados na consciência terrestre (FRANCO, 2006).

Entretanto, a reforma individual não é fácil, uma vez que muitos de nós parecem anestesiados em relação aos tesouros da alma, e mesmo entre alguns daqueles que abraçam a revelação espírita, os conflitos permanecem na condição de mecanismos de defesa contra a abnegação e a entrega total ao Senhor (FRANCO, 2012).

Estamos vendo antigos hábitos enfermiços não atendidos e não corrigidos em tempo, mediante os fatores educativos, que ressurgem, impondo-se e exigindo comportamentos altamente perigosos, que alucinam na drogadição, no tabagismo, no alcoolismo, nos desvarios eróticos do sexo em desalinho (FRANCO, 2012). São heranças do passado, que sempre se expressam no presente, como conflitos de inferioridade, de superioridade, de narcisismo, com a carga tóxica dos preconceitos que transformam os indivíduos em vândalos perversos e insensíveis, ou seja, o Espírito é a soma das suas experiências ao longo das reencarnações; o que não foi realizado no passado, é transferido para outra oportunidade com a carga das consequências a que faz jus (FRANCO, 2012).

Nestes dias atuais, como diz o Editorial da revista Reformador, de fevereiro de 2016, muitos se denominam trabalhadores fiéis do Pai, mas agem com incoerência, praticando atos não condizentes com suas Leis imperecíveis, porque se utilizam do seu nome para lutar, matar, terrorizar e desrespeitar o próximo, empregando armas e estratégias desconectadas da caridade e do amor ao semelhante.

A grande batalha sempre se há de travar nas paisagens íntimas de cada ser, a fim de que se lhe opere a instalação do amor e da verdade nos sentimentos, como nos diz M. P. de Miranda. Para o autor, não se trata de uma luta fácil, porquanto somos herdeiros de vícios e de desmandos que se prolongaram através dos milênios, até quando nos foi possível despertar para as emoções renovadoras e positivas, que devem predominar sobre as paixões animalizantes (FRANCO, 2016).

Sem dúvida, vivemos uma fase de grandes mudanças, com as dores sempre apresentando-se mais expressivas e volumosas, porque os velhos hábitos devem ceder lugar às novas injunções do progresso (FRANCO, 2012). Dessa forma, autovigiar-se constitui dever intransferível de todos aqueles que desejam a concretização da ordem e do bem viver entre as criaturas terrestres, não dando guarida às intuições do mal, representado pelas antigas tendências (FRANCO, 2016).

É verdade que para começar essa transformação moral, todos nós somos chamados ao sacrifício, a fim de demonstrarmos a excelência dos conteúdos evangélicos, considerando-se, por um lado, as injunções pessoais que exigem reparação e a fidelidade que pede confirmação pelo exemplo (FRANCO, 2016).

Sim, meus irmãos, é chegado o tempo em que os brandos hão de possuir a Terra, como nos diz Mateus, 5:4. Ou seja, estamos falando da necessidade de nós que estamos encarnados, pela mudança interior e pela batalha contra o nosso velho eu, assumir e internalizar estas máximas preconizadas por Jesus, fazendo da brandura, da moderação, da mansuetude, da afabilidade e da paciência uma lei para o nosso bem viver; assim, baniremos do nosso comportamento a violência, a cólera e até toda expressão descortês de que possamos usar para com os semelhantes (KARDEC, 2002).

Certamente, para M. P. de Miranda, os Espíritos ainda fixados nas paixões degradantes, em razão do seu primitivismo, sintonizarão com outras ondas vibratórias próprias a mundos inferiores, e para eles serão transferidos, por sintonia, onde se tornarão trabalhadores positivos pelos recursos que já possuem em relação a essas regiões mais atrasadas, nas quais aprenderão as lições da humildade e do bem proceder (FRANCO, 2016).

Porém, aqueles que ficarem e herdarem a Terra, ingressarão em um mundo regenerador. Para O Evangelho Segundo o Espiritismo, em tais mundos a alma penitente encontra a calma e o repouso e acaba por depurar-se, mas a humanidade ainda experimenta sensações e desejos, e vem a libertar-se das paixões desordenadas. Aqui vê-se escrita a palavra amor; perfeita equidade preside às relações sociais, todos reconhecem Deus e tentam caminhar para Ele, cumprindo-Lhe as leis (KARDEC, 2002). Santo Agostinho ensina, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, que nesses mundos o homem ainda é falível, porém o espírito do mal perdeu completamente o seu império.

Para Joanna de Ângelis, pouco importa a hora que se haja compreendido a significação do divino chamado, pois não se pode deixar perturbar-se ante os que estão à frente, nem lamentar os que seguem na retaguarda. Para a autora, é necessário descobrir uma dentre as mil maneiras de atuar; o que importa é a dedicação desde hoje, aqui e agora, transformando nossas paisagens interiores, edificando e servindo, atendendo o chamado do Senhor, que prossegue aguardando os que desejam trabalhar na Sua vinha (FRANCO, 2005). Os últimos chamados, qual o que ocorre contigo, receberão a recompensa prometida, não obstante o pouco tempo de que disponham para trabalhar com Jesus e por Jesus.

 

- FRANCO, D. P. Amanhecer de Uma Nova Era. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. 1.ed. Salvador: LEAL, 2012.

- FRANCO, D. P. Leis Morais da Vida. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 12.ed. Salvador: LEAL, 2005.

- FRANCO, D. P. Perturbações Espirituais. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. 1.ed. Salvador: LEAL, 2015.

- FRANCO, D. P. Reencontro com a Vida. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. 1.ed. Salvador: LEAL, 2006.

- FRANCO, D. P. Transição Planetária. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. 6.ed. Salvador: LEAL, 2016.

- KARDEC, A. A Gênese. Trad. Victor Tollendal Pacheco. 22.ed. São Paulo: LAKE, 2005.

- KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 120.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002.

- REDAÇÃO, E. N. Editorial: A Undécima Hora. In: Reformador, ano 134, n. 2.246, fev. 2016, p. 66.

janeiro | 2020

MATÉRIA DE CAPA

RIE – janeiro/2020

A marcha do progresso é incessante e nunca é tarde demais para pôr-se ao trabalho; a reforma íntima é inadiável…

Lista completa de matérias

 Cuidados nas comunicações

 Carta ao Leitor – janeiro/2020

 Dificuldade para evoluir

 Projetos que fabricam alegria e estendem braços de luz

 Mente virtuosa, corpo saudável

 A experiência é o que é

 Ativismo cristão

 Como proceder diante de extrema dificuldade emocional e espiritual?

 Mediunidade segura, equilibrada e produtiva, só com Jesus e Kardec

 Paulo de Tarso e Humberto de Campos: arautos da Boa Nova!

 Guardemos o cuidado

 Trabalhos mediúnicos se tornam escassos

 Trabalhadores da última hora e a reforma íntima

 O jovem Messias

 Intuição

 Compromisso reencarnatório e doenças crônicas

 O lado fraco

 A velha e a nova mentalidade

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 Em busca da paz

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 Notícias e eventos – janeiro/2020

 AJE-SP promove discussão sobre violência doméstica

 Os pais e o Espiritismo

 Trabajadores de la última hora y reforma íntima

 Los trabajos mediúmnicos se vuelven escasos